sábado, 30 de outubro de 2010

Como num filme sem um fim

Eram duas da manhã. Enquanto a cidade repousava, Otto observava as horas passarem da janela de seu apartamento. Não havia sido um bom dia. Tudo ao seu redor era bagunça, nada fora do comum para um rapaz da sua idade. Ainda assim, o monte de louça que engolia sua pia o assustava. E pensava ele, calmamente enquanto tomava mais um copo de café, que o prato estava sujo de arroz que comera durante o almoço, mas para quê limpá-lo?

O café começava a perder o efeito. DE repente a idéia de usá-lo de forma intravenosa parecia agradável. A chuva começava a cair, o tempo mudara tão rápido quanto as horas que estavam a passar.

Resolvera sair. Otto não era o tipo de rapaz que dirigia à noite. Mas a ideia de pegar seu Maveric e rodar pela cidade era extremamente própria para a ocasião.

Com menos de meio quilômetro rodado ele a viu. Estranhamente solitária, aquela figura feminina com curvas acentuadas lhe chamou atenção. E como não chamar? Não é todo dia que avistamos aquele tipo por aí sozinha, ainda mais na chuva.

Ao passar por ela, parou seu carro e ofereceu-lhe uma amigável carona. Não sabia para onde ela estava indo, mas também não se importava, naquele momento ele mesmo estava sem direção.

Ela aceitou a carona do jovem. E só quando entrou ele pôde perceber que ela chorava. Ao tentar indagar a direção para onde seguir, viu-se perplexo ao receber uma resposta tão vaga quanto seus pensamentos.

E seguiram. Entre esquinas e travessas trocaram olhares típicos de um flerte entre estranhos. Então, de repente ela pediu para descer. Amanhecia. Viram juntos o despertar da cidade. Com um rápido adeus ela se foi, tão rápido quanto havia chegado.

O que restou foram as lembranças e o batom que ela esquecera em seu carro.

O que restou foi o prato sujo de arroz.

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