terça-feira, 31 de maio de 2011

Poesia

-E se não houvessem estruturas que me prendessem a esse mundo eu fugiria.
Disse ele antes de tomar mais um gole daquela cerveja, cuja embalagem verde parecia combinar com seus olhos. Escorada na soleira da janela, observava todo o cenário. Tudo combinava com aqueles malditos olhos verdes.
A cortina que de leve tocava minha cintura, o abajur inclinado, os lençóis bagunçados, a simetria das lãmpadas gêmeas que pendiam do teto... Inclusive sua vizinha inconveniente que com o 'toc toc' de seu salto poderia acordar a vizinhança inteira.
Tudo combinava, tudo rimava. Era uma poesia involuntária.
Me pega pela cintura meu bem, vamos rimar!

Sublime

Me deixa te explicar.
O toque não é apenas um toque. Teus dedos entrelaçam os meus e escrevem tua história aos poucos na minha.
Sou criminoso confesso, e já te disse várias vezes que ler meus pensamentos também é crime. Assim como leio os teus.
Estranho compartilhar sorrisos e abraços e colos com quem não vejo... Não toco.
Mas te sinto. Além do toque, além das fronteiras.
Nosso caso é transcedental. Não entendo mais onde tu começas e eu termino. Não sei quem sou quando acordo. Porque as vezes acordo sendo tu, e sei que acordas sendo eu também.
Me olho no espelho e te vejo refletida...
Será problema de personalidade, ou meu eu interior exteriorizado em ti?

Pega minha mão, diz que esse pesadelo acaba como acabou antes.
Compartilha comigo tuas ideias. Ou não compartilha, deixa-me adivinhá-las. São as minhas também.

O meu eu, está em você.... Como amigas siamesas que tem o cérebro unido.
Não o cérebro, a alma. Nasceram juntas e não se separam. Não enquanto houver toque...

domingo, 22 de maio de 2011

Sonho Bom

E quando sinto que meu mundo em agonia está prestes a ruir

Tua mãos como repentina ventania

Tocam meu corpo

Tocam minh'alma

Elas me vestem como um abrigo

E depois que passa a tempestade

No teu colo eu deito

Como criança durmo

E só hoje eu vou fingir que o mundo pode ser perfeito,

Fechar os olhos e voltar a dormir


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mr Jones e Eu (parte III)

Nem lembro que idade eu tinha exatamente.
As coisas passavam rápido demais e cada instante era tão eterno.

4 meses naquele caso havia sido perda de tempo. De ambos, mas pra ser sincera mais dele que meu. A memórias, quando queremos, mantém vivos os momentos mais simbólicos...
Nunca mais usei cinza.

Naquela mesma noite retomei meu trabalho já esquecido dentro da gaveta. Era uma pseudo escritora com consciência para não sobreviver as custas de livros. Como é engraçado, trabalhar como fotógrafa e escritora simultaneamente.
'O que os olhos não veem, o coração não sente' - Um quadro com essa frase decorava meu estúdio. Na verdade nem sei que escreveu, e nem ligava muito pra ela.
Mas naquele dia fiquei mais tempo no estúdio com a desculpa de finalizar pelo menos aquele capítulo.

E qual seria o título afinal?
Já eram 3 da manhã e depois de 50 páginas escritas (e reescritas) decidir não decidir naquela hora. E se meu carro ainda estivesse lá, pegaria ele e iria no Hard Candy.

Mr Jones e Eu (parte II)

'Quando todos te amam, você nunca fica só'

Nessa época eu tinha um certo fetiche por estrangeiros, e o Crows sempre atraia esse tipo de freguesia. Era um pub que eu frequentava quase sempre, caso não fosse para o Hard Candy ver o Mr Jones fazer malabares com garrafas vazias.

Nesse lugar que conheci Duritz. Eu estava de cinza, Duritz também.
Ele sussurou algo no meu ouvido quando passei por ele. Algo como "Todas as belas cores são muito, muito significantes, e cinza é minha cor preferida". Me senti simbólica.
Todos querem ser simbólicos. Ser alguém para outro alguém. E confesso que aquela frase me arrepiou a espinha.
Esqueci todos ao meu redor e só vi aquele jovem alto, barbudo e com sotaque irlandês. E mesmo não sabendo definir um sotaque irlandês, reconheci que só poderia ser...

Foi sinestésico. As outras vezes que nos vimos mais ainda. Não precisava de muito pra me convencer, e ele fez mais do que o suficiente.
Depois de três encontros já havia sido muito. Demais pra mim. Meu maior relacionamento não havia durado dois meses e envolvia mais sentimento do que 'aquilo'.
Não que Duritz fosse um cara ruim. Na verdade ele era mais do que já havia tido (ainda que não tivesse tido muito).

Tocava Dylan no violão, como se fosse o próprio. E quando atingia os graves me transportava para um lugar qualquer que não sabia dizer o que significava. E a noite seu quarto exalava um aroma de romance noir. Como se fosse o próprio Raymond Chandler.
Era perfeito.
Mas não era pra mim.

Durante o tempo que ficamos juntos parei de frequentar o Hard Candy. Foram-se 4 meses? Passou rápido demais...

Ao fim não havia mais barba e dos 2 metros restaram apenas alguns centímtros de mágoa...

Mr Jones e Eu (parte I)

Mr Jones era hispânico. Adorava a forma de como ele fitava qualquer uma que entrava naquele lugar. E na verdade toda vez que imaginava seu corpo nu minha mente logo se pervertia.
Mr Jones....
Era mais velho que eu, uns 10 anos ou mais. Garçom de um bar pouco frequantado na época, mas logo que o grande público descobriu o preço da cerveja ele lotou. Dizem que Jones era o próprio dono do local, e prefiria que lhe chamassem de "Mistêr". E ainda soletrava caso não o fizesse.

- É M-I-S-T-E-R Jones, moça. Mas se você quiser pode ser Mr Jones e Eu.

E foi assim que nos conhecemos mais profundamente. Não tão profundamente quanto eu queria, mas o suficiente para o cumprimento 'quase íntimo' de três beijos a cada vez que nos víamos.

Em certa ocasião eu o vi fora daquele lugar, estava acompanhado por uma moça loira. Mais alta que eu e seios fartos. Poderia ser uma modelo de lingerie. Usava um corpete justo, que fazia seus seios triplicarem de tamanho. Ele com uma camisa de flanela verde musgo que só ressaltava seus olhos. Na verdade custei crer que era ele. Sem a barba mal feita era quase impossível reconhecê-lo.
Foi nessa mesma noite que conheci Duritz, um irlandês que beirava os dois metros e tinha uma barba longa. Como ele estava perto de Jones, digo Mr Jones, achou que meus olhares eram pra ele. E antes do fim da noite (e depois de muitas doses de whisky) eu lhe dei meu telefone.
Sua insistência foi digna de prêmio....

Desabafo

Perdi o controle, e por um instante tudo o que julgava estar superado caiu sobre mim no formato de uma nuvem negra que só fez chover.
Tenho que me desculpar, ainda que seja apenas por descargo de consciência, pois nosso verbo não se conjuga mais na 1ª pessoa do plural. As pessoas crescem, e acho que cresci o suficiente nos ultimos meses pra poder perceber o quanto errei.
E errei.
Mas meu bem, o erro não foi só meu, e erramos, nós dois juntos. Tropeçamos na mesma pedra, ralamos o mesmo joelho...

Me desculpe por não ter visto. Ainda que hoje prefiro ter sido cega.
Me desculpe por não ter percebido. Ainda que hoje prefira ter passado em branco.
Me desculpe por não ter sido forte. Embora hoje admira minha fraqueza.
Me desculpe por ainda lembrar e pensar tanto nisso...

Me desculpe por não ter me desculpado antes.

Adeus garoto.

domingo, 15 de maio de 2011

As belas bagunças da vida

As dores nos ensinam a gritar.
O grito nos ensina a sofrer.
O sofrimento nos ensina uam coisa qualquer que nos faz superar.
Superar nos deixa vulneráveis a novas dores....


A vida é um circulo vicioso ou viciante?

O começo de uma nova semana.

Pegar uam mochila e cair no mundo é tentador.
Não somos donos dos nossos destinos, e a insegurança nos prende num mesmo caminho sempre.
Mas ainda assim fazer as malas, deixar as contas pra trás, sumir sem despidir-se, lavar o rosto numa garoa de segunda-feira de manhã sem ter que voltar para a janta... É tentador.
Queria sumir.
Apagar os vestígios de mim mesma.
Pisar nas poças d'água sem se preocupar com a meia molhada.
Sumir nem que seja por uma semana...

Mas não sei se não seria pior. Voltar aos confins da rotina habitual depois de ter experimentado o doce aroma de liberdade...

"Quando seremos livres?" Ela perguntou.
Ele respondeu com o silêncio. Ou silenciou-se com a resposta.

Acho que um dia saio por aí espalhando minha filosofia...


quinta-feira, 12 de maio de 2011

Vazio




Escrever sem inspirador,
é ruim.
É como viver
Sem amor.
Preciso encontrar
Parar meus sonhos o substituto!
Enquanto isso...
Sinto minh'alma em luto...

Falo comigo
No silêncio da noite...
Enquanto lá fora
Só do vento
O açoite.

Sigo só
Sempre só
Mas não estou triste.

Neiva Dorneles

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Podemos ser heróis

Sim, nós podemos ser heróis.
E nao porque o David Bowie, ou um personagem de filme clichê disse.
Mas somos humanos ilimitados, e temos o direito de sermos o que quisermos. Ser herói não é uma consequência biológica, mas uma escolha.
E heróis também quebram barreiras.
Um herói pode ser o pai que leva o mundo nos ombros e evita que o vejam chorar.
Uma mãe que abre mão do alimento pra saciar o filho.
Um doador de sangue.
Um motorista de ônibus que espera o passageiro que chegou atrasado.
Ou o jovem que abre a mão do acento para um idoso.

E sim, podemos ser heróis por um dia, mas não seria mais belo se fôssemos por TODOS os dias?
Sermos diferentes faz a diferença. Se um elemento se nega a compactuar com a obra dos outros ao seu redor, já se faz um herói.

Somos condutores das nossas próprias vidas, e só depende de nós escolhermos o caminho para qual devemos guia-la.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tudo que posso lembrar

Estranho ouvir uma música e se lembrar de um momento específico. Dia 18 de junho fará um ano. Um ano que passou rápido. Rápido demais.
Estranho ter lembrado disso agora.
Liguei na música sem querer e seguindo a mesma intuição comecei a chorar.
Sabe, eu nunca havia sentido isso por alguém antes. É um amor estranho. Como se ama poucas pessoas. Como se ama um mestre.
Complicado tentar explicar. Não li todos seus livros, não vi todas suas entrevistas, não enviei aquela carta....
Amanhã fará um ano que escrevi ela. Era pra ti.
Queria ter enviado. Minha cosciência pesaria menos.
Aliás, as lembranças fazem com que o fardo de viver seja mais leve.
Se temos lembranças, logo vivemos.
Lembro dessa música, lembro que estava ouvindo quando li.
Lembro que chorava.
Eu vivo, mas me indago, porque tu não vives mais.
Como eu disse aquela vez, e repito nesse momento:
"Não tive o prazer de te conhecer, mas sinto na sua perda a perda de um amigo, de um irmão, de um pai... De um mestre. Porque o mundo era um lugar bem melhor só porque tu estavas nele."


Sinto saudades de um estranho... Estranho sentir saudades de quem nunca se sentiu.
#LutoEterno Saramago.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Papo Cabeça


Talvez eu seja mais um tolo tentando dar sentido e notoriedade às coisas mais simples desse mundo. Talvez eu seja esse único tolo...


Havia publicado um livro uns anos atrás. Subjetivo demais, profundo demais. Ninguém entendera, mas em poucas tentou explicar.

Ele é algo sobre perdas. O título na verdade é bem subliminar. Saiu de um papo deveras antigo com alguém inesquecível. Aí eu tava lembrando de uma conversa nossa e isso me veio na cabeça. Algo meio aleatório... Mas depois de tanta coisa faz sentido


Quanto tempo faz isso?

Foi uma das nossas primeiras conversas. Acho que ele nem lembra disso.

Sou aquele tipo de pessoa que lembra de conversas simples mesmo depois de tanto tempo. Talvez seja meu lado 'diferente' de ver as coisas. Dando mais importância pros gestos e e pras palavras corriqueiras do que pro acúmulo de bens e estímulos pré planejados!


Dois segundos depois todos entendiam...

Vermelho




As vezes eu só quero descansar
Desacreditar no espelho
Ver o sol se pôr vermelho

Acho graça
Que isso sempre foi assim
Mas você me chama pro mundo
E me faz sair do fundo de onde eu tô... de novo

Nada sei dessa tarde
Se você não vem
Sigo o sol na cidade
Pra te procurar

Eu bem sei onde tudo vai parar
Já não tenho medo do mundo
Sou filho da eternidade

Trago nesses pés o vento
Pra te carregar daqui
Mas você sorri desse jeito
E eu que já perdi a hora e o lugar
Aceito.

Nada sei nessa tarde
Se você não vem
Sigo o sol na cidade
A te procurar

Nada de meu nesse lugar
A cidade vai pensar
Que nada aconteceu em vão
Você vai me ligar então mais uma vez


VERMELHO - MARCELO CAMELO