sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Blowin' In The Wind


Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar,
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas as balas de canhão precisarão voar,
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta, meu amigo, está sendo soprada no vento
A resposta está sendo soprada no vento


Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem,
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorarem?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está sendo soprada no vento
A resposta está sendo soprada no vento


Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça,
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está sendo soprada no vento
The answer is blowin' in the wind.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minhas teorias

O Cúmplice

Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos.
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo.
O meu alimento é todas as coisas.
O peso exacto do universo, a humilhação, o júbilo.
Tenho de justificar o que me fere.
Não importa a minha felicidade ou infelicidade.
Sou o poeta.

Jorge Luis Borges


Ela olhou fundo nos olhos dele.
Ele suspirou.
Então ela disse, absorvendo qualquer grama de coragem que encontrasse na atmosfera. Tremia. Perdera a firmeza ao falar.
- Desenvolvi três teorias...
Ele tremeu. Dessa vez não sabia se estava pronto pra ouvir, mas ficou atento a cada palavra como se fossem as últimas que ouviria até o fim de seus dias.
Ela olhou o relógio. Passou muito tempo desde que estavam ali.
- Uma delas é que se eu sair correndo sem direção eu inevitavelmente vou parar nos teus braços...
Ele desmoronou com as doces palavras.
Um sentimento de alívio e apreensão sincronizou-se e tomou o ambiente.
- Qual a segunda teoria?
- É a de que mesmo que você não consiga mais ouvir minha voz, eu estarei ao seu lado.
Ele estava ouvindo sua voz. Fechou os olhos...
O silêncio proporcionava um conforto na escuridão.
Enquanto recobrava a vista e sentia aos poucos a luz do sol tocando sua retina, deixou de sentir sua presença.
Ela se fora. Voara como as folhas secas na imensidão de um eterno outono...
E a terceira teoria?

(Não feche os olhos nem fuja do inevitável... Pena que não costumo ligar pras minhas próprias teorias!)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lembra-te?

Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,

De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele

Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.

(Sylvia Plath)



Existem histórias de que me lembro bem. Uma delas, vale a pena citar aqui. Se tu cres que é real, engana-se. Mas mentira também não é. Aconteceu, e tal como desenrolou-se, tornou-se invenção. Mas nem por isso deixou de existir.
Essa história é sobre lembranças. Se passa em uma memória vanguardista de uns 30 e tantos anos atrás.
Ela se recorda eternamente. Ele passa a vida tentando esquecer. Cada um tem sua versão de um tempo que não volta.
Quem dera houvesse sido bom para ambos. Um encontro casual. Juventude perdida. Nada como um olhar para fazer daquela noite a mais memorável.
Não que tenha sido uma noite anormal. Mas um sorriso meia-boca e uma dose de whisky revelou o segredo debaixo de quilos de tecido. Logo não havia mais whisky... Logo não havia mais tecido.
E ardia a chama. Chama que queimava como o pecador no paraíso. Doía na alma mas fazia bem ao coração.
Na verdade nem havia coração.. Este já havia queimado e se tornado cinza em meio aos lençóis.

Ao fim de tudo não restara nada. Logo não havia mais whisky... Logo não havia mais tecido.
Ela passa seus dias teimando em esquecer. Ele recorda-se até o fim de seus dias...

Soneto de amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

V. de Moraes