terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minhas teorias

O Cúmplice

Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos.
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo.
O meu alimento é todas as coisas.
O peso exacto do universo, a humilhação, o júbilo.
Tenho de justificar o que me fere.
Não importa a minha felicidade ou infelicidade.
Sou o poeta.

Jorge Luis Borges


Ela olhou fundo nos olhos dele.
Ele suspirou.
Então ela disse, absorvendo qualquer grama de coragem que encontrasse na atmosfera. Tremia. Perdera a firmeza ao falar.
- Desenvolvi três teorias...
Ele tremeu. Dessa vez não sabia se estava pronto pra ouvir, mas ficou atento a cada palavra como se fossem as últimas que ouviria até o fim de seus dias.
Ela olhou o relógio. Passou muito tempo desde que estavam ali.
- Uma delas é que se eu sair correndo sem direção eu inevitavelmente vou parar nos teus braços...
Ele desmoronou com as doces palavras.
Um sentimento de alívio e apreensão sincronizou-se e tomou o ambiente.
- Qual a segunda teoria?
- É a de que mesmo que você não consiga mais ouvir minha voz, eu estarei ao seu lado.
Ele estava ouvindo sua voz. Fechou os olhos...
O silêncio proporcionava um conforto na escuridão.
Enquanto recobrava a vista e sentia aos poucos a luz do sol tocando sua retina, deixou de sentir sua presença.
Ela se fora. Voara como as folhas secas na imensidão de um eterno outono...
E a terceira teoria?

(Não feche os olhos nem fuja do inevitável... Pena que não costumo ligar pras minhas próprias teorias!)

Um comentário:

  1. Ela voltará. Mutável como a água. Um coração pulsando em cada gota de chuva. Ele estará preparado para a tempestade? E quando o raio queimá-lo até a alma, implorará por mais ? Escutará a teoria quando o trovão gritá-la em seu ouvido? Quando o inverno vai chegar? Quando?

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