terça-feira, 5 de julho de 2011

Insônia

Todos os dias 2 horas antes do celular gritar ela estava de olhos abertos encarando o forro de seu apartamento. Havia pincelado-o a mão e agora aqueles arabescos eram sua companhia matinal.
Um inferno particular.
Chegava antes mesmo das portas de seu serviço estarem abertas.
Não dormia, não sonhava.

Até o dia em que o encontrou.

Encontrou porque o procurava.
Haviam se batido na saída da catraca do trem, e desde então ela frenquentava a estação e ficava sentada, esperando vê-lo novamente. Não sabia se ele era casado, mas no fundo não se importava. Só precisava do nome.
Um ano depois já tinha insônia. Tomava chás belgas que diziam fazer dormir, pílulas roxas, rosas e amarelas que prometiam a volta do sono e copos de leite morno... Litros de leite morno.
Mas nada.
Ela ficava de olhos abertos olhando os arabescos no forro.
Havia pintado eles um ano antes, quando encontrou o moreno de olhos verdes. Ele não era muito bonito; a não ser pelos olhos brilhantes que podiam ser vistos no escuro, não tinha nada de especial. Ela havia sonhado com arabescos, foi lá e pintou-os.
Deixou de sonhar.
Volta e meia pegava seu casaco preto e saia a zanzar pelas madrugadas frias de Porto Alegre. Alguns 'amigos' diziam que ela havia pirado. E pior, sem razão.
Não sabiam do moço, do sonho ou sequer dos arabescos. Ninguém entrava em seu quarto.
...
........
Encontrou, encontrou porque procurava.
Olhou em seus olhos e disse:
- Finalmente te encontrei! - Suspirou e lhe deu um beijo.
Um simples beijo, apenas um encostar de lábios. O suficiente para fazer escorrer uma lágrima de seu olho direito.

Ele riu. Nada respondeu.
Como no dia em que se pecharam. Ficaram cerca de dois minutos olhando um no olho do outro e nada.
E quando alcançavam a intimidade num olhar novamente, das costas de seu amado surgiram dois oficiais de justiça que o algemaram. Preso por tráfico internacional de drogas.
Ela riu. Voltou a sonhar e dormir.
Sabia que agora podia encontrá-lo sempre que quisesse.



Isso se ele não saísse em condicional... Aí seria um problema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário